Apocalipse no nordeste
APOCALIPSE NO NORDESTE
Capítulo 1 Fortaleza em chamas
Em uma noite tempestuosa, em que a chuva incessante ficava cada vez mais forte, mesmo com a quantidade de água que caía, não conseguia apagar as chamas, não conseguiu evitar toda a destruição. Várias casas foram destruídas, incluindo a de Dona Tereza, diversos pontos da cidade estão queimando, sem explicação.
Valdo tenta chegar o mais rápido em seu abrigo. Cada pedalada que dava em sua bicicleta era como se fosse a última. Ele sobe a calçada e vai para baixo de uma varanda, tentando se proteger da tempestade torrencial. Observa atentamente se não tem ninguém o seguindo e verifica se alguém tenta se comunicar com ele. Não há luz nos postes do bairro, a única iluminação vem dos raios que iluminam alguns pontos, deixando um brilho cegante por um instante.
Nesse curto espaço de tempo, percebe-se como o ambiente está tenebroso. Outros pontos estão sendo iluminados pelos focos das chamas que insistem em se manter acesas apesar da água constante. A tempestade está ficando cada vez mais forte. Vários donos de carros estão tentando tirar seus veículos daquela confusão, o que dificulta a locomoção devido à quantidade de destroços.
Valdo está todo molhado, confuso e muito ofegante, pois pedala sem parar há um bom tempo, preocupado com sua mãe.
– Droga, que frio! Pensava o garoto enquanto esfregava as mãos. A tremedeira fazia seus dentes baterem com força. “Eu não imaginei que o fim do mundo seria assim”, pensou. O garoto estava tentando não enlouquecer com o que estava acontecendo diante de seus olhos.
Aquele cenário de destruição era inimaginável e, ao mesmo tempo, aterrorizante ao pensar que poderia acontecer novamente. Valdo pega o smartphone no bolso e tenta ligar para seu amigo, Juscelino. O barulho de cada toque de chamada é ensurdecedor em seu ouvido esquerdo. Em sua primeira tentativa, ele não consegue completar a ligação. Ele troca o celular de mão e o coloca no ouvido direito, curvando sua cabeça para o ombro e tentando mais uma vez…
A cada novo toque da chamada, o sentimento de desespero cresce.
Sem resposta nos primeiros toques, ele começa a falar um pouco mais alto. — Atende, atende, atende!
Caramba, o que está acontecendo com essa cidade? Fortaleza está em chamas! Está tudo destruído, é um caos, isso não deveria estar acontecendo.
Juscelino responde:
— Eu falei que algo estava errado, que isso era um tipo de prelúdio. Eu não tenho certeza se está acontecendo em toda Fortaleza, pode ser apenas no nosso bairro.
Juscelino começa a relatar brevemente o que está acontecendo, enquanto continua observando. Seu pai saiu do carro para tentar encontrar uma rota de fuga e pediu ao garoto para esperar. No entanto, com a tempestade e a chuva forte, o nível da água começou a subir rapidamente e as ruas começaram a ficar inundadas. Então ele teve que sair do carro e subir no teto. Ele escuta um som alto, uma estrutura caindo… Quando olha para trás na rua de baixo, vê uma casa desmoronando e logo em seguida uma grande explosão que ilumina a rua, permitindo que ele veja claramente toda a destruição.
Por um instante, todo o seu corpo fica arrepiado, seu coração acelera e o medo de morrer começa a tomar conta. Percebe que sua ansiedade está saindo do controle. Ele já esperava que isso acontecesse e tem uma medida para lidar com tudo isso. Sempre foi contra o que é recomendado, mas naquele momento de tensão precisava tomar medidas desesperadas. Ele retira um pequeno canivete do bolso traseiro da calça. Ele contempla a lâmina do canivete, que mantinha por perto por questões de segurança, mas não imaginava que precisaria dela tão rapidamente. Ao abrir a lâmina oculta, percebe que suas mãos tremem. Pode ser devido ao frio da chuva ou a tudo o que aconteceu, mas ele precisa recuperar o controle o mais rápido possível. Ele abre sua mão esquerda e posiciona a lâmina em seu dedo polegar, fazendo um corte superficial. Por um segundo, a dor o faz parar de surtar, apesar do cenário de sofrimento.
Após a sensação de dor, ele se concentra e volta a falar com Valdo. Desculpa, cara. Me perdi por um momento. Você conseguiu chegar em casa? Valdo, ofegante, informa sua localização.
— Não, eu tenho tentado ligar para minha mãe, Cleilton, Alma, mas ninguém responde. Os telefones chamam até a ligação cair. O único com quem consegui falar foi você. Estou mais perto, já estou no último quarteirão. Não sei se vou conseguir chegar de bicicleta, as ruas estão alagando rapidamente.
— Porra! – exclama Valdo, com um som de espanto em sua voz. O que houve? Fala, cara! – Juscelino pergunta com preocupação. — Abriu um buraco na rua principal. Vários carros estão sendo engolidos. Tem pessoas dentro – relata Valdo, apavorado, nunca tinha visto algo parecido.
Ao perceber que seria pego pelo buraco. Valdo coloca seu celular no bolso e volta a pedalar mais rápido pelas calçadas. Ele usa toda a força que tem em suas pernas para ficar o mais distante possível daquela cratera. Quando finalmente chega à rua de sua casa, ele pára e observa… o cenário que ele vê é devastador. Carros de bombeiros tentando apagar diversos incêndios que consomem várias casas de sua rua. Apesar da forte tempestade, pessoas continuam correndo com baldes de água, tentando ajudar como podem. Outras pessoas estão desorientadas, correndo sem rumo. Crianças chorando e animais tentando fugir do fogo. Valdo, por um instante, trava diante daquela cena e lembra de seu celular. Juscelino continua na linha, ansioso esperando a resposta de seu amigo, rezando para que ele esteja bem e a cratera que se abriu tenha sido longe dele.
Valdo pega o celular para tranquilizar seu amigo.
– Continuo aqui, você poderia me dizer o que está acontecendo? Juscelino descreve a situação em seu quarteirão. – Cara, aqui as coisas já estão sob controle… mas eles… então a ligação começa a falhar e o som de ligação perdida fica evidente, a ligação caiu. – Juscelino, Juscelino…- Droga! Valdo olha para o celular e verifica que o sinal da operadora desaparece, as últimas palavras que escutou de seu amigo ficam em sua cabeça, mas ele não consegue juntar o final da frase. O que ele queria falar, não foi possível escutar.
Esse é um bairro periférico, as últimas ruas foram construídas para serem usadas pelos funcionários de uma antiga fábrica de calçados. A maioria das casas tinha complemento de madeira em suas construções, todas tinham o mesmo tamanho: sala, quarto, um vão estendido que poderia ser usado como cozinha, e o banheiro nos fundos dava acesso a um grande terreno.
Esse terreno ligava o rio a uma mata um pouco mais fechada que, de longe, se parecia com uma floresta. O cenário era assombroso e as chamas consumiram rapidamente todo o quarteirão.
Valdo escuta uma voz sussurrando em seu ouvido que diz: “Isso não é Matrix, não tem pílula azul ou vermelha. O que você tem que fazer é despertar, meu cavaleiro. Depois que isso acontecer, você vai saber toda a verdade.” Valdo fica paralisado, sem entender o que está acontecendo. Nenhum músculo de seu corpo tem estímulo, ele está literalmente paralisado.
A voz continua a sussurrar: “Tudo que aconteceu aqui não foi por acaso. Você quer despertar?” Seu peito começa a doer e ele fica zonzo. Em um segundo de agonia, ele responde: “Sim.”
A dor fica mais forte. Valdo coloca a mão em seu peito, aperta, mas não consegue se acalmar. Ele sai da bicicleta. Parece que seu coração vai explodir. Com medo da morte, ele cambaleia em direção à sua casa.
“Mãe”, um sussurro sai sem força. “Mãe… não pode ser. Isso não é verdade”, ele se ajoelha em frente a sua casa, que está sendo consumida pelo fogo. Por um momento, ele ouve uma forte trombeta dentro de sua cabeça. O som é ensurdecedor. Quando ele coloca as mãos nos ouvidos, percebe uma silhueta negra em meio às chamas, no que era antes o telhado de sua casa. Neste momento, tudo está um caos. O garoto não saberia diferenciar se estava delirando ou se aquilo era real. A trombeta parou de soar, a dor no peito sumiu.
Ele apoiou uma das mãos no chão para tentar se recuperar da dor e do som ensurdecedor que estava em sua mente. Estreitou os olhos para tentar ver o que seria aquela silhueta. Por um instante, o fogo se expandiu ao redor daquele ser. Ele pôde ver, ainda com os olhos estreitos, o que parecia ser um homem de cabelos brancos. Seus olhos brilhavam como fogo e seus pés estavam envoltos em chamas. Ele estava usando um paletó branco e, quando o garoto tentava focar, de repente desapareceu. O som em sua mente desapareceu e foi substituído pelos sons das sirenes dos carros de resgate dos bombeiros, que travavam uma batalha para salvar o máximo de vidas.
Valdo viu quando o resgate conseguiu retirar o corpo de sua mãe, infelizmente Dona Tereza não resistiu. As lágrimas do garoto misturam-se com as gotas da chuva; ele está desolado, pois sua mãe, a única pessoa que realmente se preocupava com ele, acabara de falecer. Enquanto o corpo dela passa à sua frente, o garoto só consegue segurar sua mão e dizer: “Mãe… eu vou melhorar, por favor! Eu vou estudar, nunca mais vou mentir. Mãe, não faça isso comigo… Padre Cícero, me ajude! Escute o meu pedido, ela era sua devota, ajude-a.”
O garoto perde o controle e grita como uma fera selvagem. “Mãe, não!!!!” Seu grito é tão assombroso e alto que assusta os bombeir
os que estavam retirando o corpo de sua mãe.
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Se isso acontecer no nordeste, será apenas mais uma lutar dos nordestino. fome, seca, miseria infelizmente está na história da região.
Nossa região já sofreu muito, aqui e apenas literatura, que Deus tenha piedade.